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15 de março de 2010

Rousseau e o romantismo

Rousseau teve um papel fundamental no romantismo. Seu pessimismo profundo diante da sociedade e civilização, a idéia de uma natureza humana que vai sendo corrompida pela cultura conspiraram para elaboração da imagem do bom selvagem, do ser íntegro e primitivo é que deve figurar como ideal para o homem corrompido pela sociedade. Daí o interesse pelo exotismo e pelo indianismo e por aquilo que podemos chamar de "sentimento da natureza". Em Rousseau, o "sentimento da natureza está profundamente relacionado com uma atitude subjetivista, com o voltar-se para si mesmo. Tomando por base sua própria personalidade, Jean-Jacques começa a estudar o homem e sua relação com o mundo que o cerca. Ao fazê-lo, ensaia uma linguagem da natureza, da paixão e dos sonhos.

"Rousseau busca, assim, uma natureza humana selvagem, pura, sem a mácula causada pelo mundo corrompido pela civilização. É o famoso mito do bom selvagem, ser íntegro e primitivo, tão amplamente retomado pelos autores românticos. Esse homem está oculto no interior de cada homem, possui a essência de todos os homens, a liberdade. Mas, uma liberdade não apenas social, também emocional, sentimental."

Fonte: ROUSSEAU E O ROMANTISMO: ALGUMAS OBSERVAÇÕES, de Érica Milaneze.
Ao estabelecer a necessidade de liberdade, de pensamentos, de palavras e da livre expressão da criatividade, rejeita as regras e modelos impostos pela razão em detrimento de uma maior simplicidade e franquezas estéticas. O homem se realiza na sensibilidade e na criatividade, liberando a inspiração original que verte das profundezas do ser. Novamente, percebemos características que serão retomadas pelos românticos: a liberdade estética e a inspiração como verdadeira fonte de expressão do gênio criador.

Desta forma, pode-se dizer que um dos pontos de partida da obra de Rousseau é a interioridade como sinônimo de sentimento, o que o contrapõe ao racionalismo do Século das Luzes. É no sentimento que se encontra a melhor tradução da interioridade humana, pois é no sentir-se que o homem mergulha em suas raízes de maneira mais livre. Há uma expansão do eu e da subjetividade, que será a base de todo pensamento romântico. O espírito romântico, já no século XIX, volta-se para a subjetividade, para a valorização dos sentimentos em todos os seus matizes, mas é no amor que encontramos sua grande expressão. O amor que para Jean-Jacques é também uma forma de ressaltar a essência primitiva do ser humano.

No entanto, ao falar de natureza, Rousseau não pressupõe apenas a natureza interna, mas também a natureza externa, o espaço físico externo. O homem deve procurar refletir sobre a natureza que o rodeia, o que essa natureza tem a lhe dizer, que sentimentos ela desperta em sua interioridade. Tem-se, assim, uma fusão do espírito humano com a natureza através de uma interiorização do espaço externo, ou seja, a natureza torna-se parte da alma humana. O espírito humano acaba por se alargar ao se fundir com um elemento puro, sem a mácula da mão humana corrompida pela sociedade.

A natureza mostra-se ao homem em todo seu esplendor e grandeza, é a natureza selvagem, cuja força impulsiona o movimento universal. Na famosa obra de Rousseau, Les rêveries du promeneur solitaire, o caminhante solitário evoca a natureza em seus longos passeios, é nela que encontra seus maiores prazeres, pois sente essa natureza com todos seus sentidos, com todo seu ser. A natureza transforma-se em refúgio da solidão e sua harmonia sensibiliza a alma melancólica ao entrar em comunicação com Deus.

O sentimento da natureza manifesta-se no romantismo como extensão das idéias de Rousseau, na busca da solidão, seja pela procura de lugares distantes como o Novo Mundo, seja pela preferência por lugares pitorescos, grandiosos e selvagens. A natureza guarda algo de religioso, é a expressão concreta da divindade, representando um refúgio para a melancolia sentida. O espírito romântico busca, ainda, na natureza aquilo que está escondido, o mistério que se oculta por trás de sua grandeza e profundidade.

Observamos que as idéias de Rousseau tiveram forte influência na formação de todo o pensamento romântico e denotam um verdadeiro despertar da sensibilidade em um século em que a razão se impõe como base fundamental da sociedade e cultura.

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