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15 de março de 2010

Herói romântico vs. sociedade

Na estética clássica, o tema do desajustamento do indivíduo foi tratado por Molière. Para ele, o que importava era o ajustamento à sociedade, e nos termos em que deveria ocorrer. O meio e o critério básico são o bom senso, o equilibrio das paixões e propensões que desregram a conduta social das personagens, colocando-as em situação cômica pela inadequação aos marcos comuns da normalidade. Por isso os conselheiros de Molière procuram essencialmente reconduzi-las a atitudes socialmente razoaveis, admissíveis, segundo as normas então vigentes. À luz de Bergson, poder-se-ia dizer que se empenham em flexibilizar-lhes os enrijecimentos de carater, os automatismos e cacoetes anti ou a-sociais que as revestem de caricata excentricidade aos olhos dos sensatos, isto e, dos que se comportam com juizo e regra da sociedade. O desajustado é, pois, uma figura cômica no teatro de Moliere. É o individuo reto demais para poder conviver com as fraquezas e as vaidades humanas que, no entanto, fazem parte da realidade dos homens e, por isso, do jogo social, devendo ser, senão perdoados, acolhidos e tolerados com medida, a nao ser que se queira incorrer em misantropia e cometer o pecado do anti-social como parece insinuar o conselho amigo.
No romantismo, ocorre o oposto: o desajustado é uma figura trágica e não cômica. Os verdadeiros valores estão do seu lado. O ajustado deve ser desajustado: ele é que tem razão e não a sociedade. É a afirmação do eu em face de seu contexto/insatisfação com a sociedade.
Um dos temas recorrentes é a crítica à estatização, burocratização, engrenagem social e alienação do individuo. Sentindo-se à margem da sociedade, como alguém dissociado dela por seu caráter superior mas não reconhecido, o herói sofre com a situação, experimenta a dor do mundo.
A dor do mundo é o sentimento de desterro do homem romantico em sua relacao com o contexto onde lhe é dado viver. Incapaz de superar esta cisão por uma decisão, ve-se permanentemente cindido, o que determina uma passividade no agir - típica do romantismo - e esta mesma divisão o coloca numa relação irônica em face de si mesmo e crítica em face do mundo.

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