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17 de agosto de 2010

Sade segundo Simone de Beauvoir

"A libido está em todo lugar, e ela é sempre maior do que si própria.
Sade certamente antecipou uma grande verdade. Ele sabia que as
“perversões” que são vulgarmente consideradas como
monstruosidades morais ou defeitos psicológicos na verdade
concernem o que agora seria considerado intencionalidade. Ele
entendeu, também, que nossos gostos são motivados não pelas
qualidades intrínsecas, mas da relação do último com o objeto. Em
uma passagem da La Nouvelle Justine ele tenta explicar coprofilia. Sua
resposta é inadequada, mas de modo desengonçado, usando a noção
de imaginação, ele aponta que a verdade de uma coisa não se encontra
no que ela é, mas no significado que adquiriu no percurso da nossa
experiência individual. Intuições como essa nos permitem saudar
Sade como o precursor da psicanálise."

Sade em algumas palavras....

- Negação de Deus
- Obrigação do homem em seguir as leis da natureza.
- Moral é oposta á natureza.
- Destruição - primeira lei da natureza. A natureza criou o homem para a guerra e a luta.
- Morte e assassinato – retorno da matéria à natureza.
- Gozo é o imperativo da natureza.
- Primado do prazer individual.
- A dor do outro é o mais poderoso afrodisíaco
- A dor alheia não pode ser sentida pelo eu.
- O amor ao próximo é contrário à natureza
- Individualismo selvagem – o que importa é o meu prazer.

16 de agosto de 2010

Impressionismo

Impressionismo (segundo Hauser)

Crise devido ao rápido desenvolvimento da técnica e pela busca incessante do novo. Grande dinamismo, grandes mudanças, ritmo vertiginoso; sentimento de rapidez. Corresponde ao mundo do homem moderno, onde tudo é transformado em movimento e variação, para quem a experiência do mundo é cada mais experiência do tempo.
Características: Arte urbana, descoberta da qualidade paisagística da cidade; olhar é o do moderno homem técnico. Descreve o ritmo nervoso, as impressòes súbitas e efêmeras da vida das cidades. Surgimento de uma nova sensibilidade nervosa. Ruptura com a visão estática do mundo; privilegia o movimento e a mudança. Realidade não é um ser, mas um devir. Natureza: em estado de decomposição. O mundo se desintegra. Supressão de tudo que é psicológico/valorização dos valores visuais. Visão do mundo atomizado, cheio de dinamismo.

Impressionismo
- arte urbana: olhar do citadino, com a sensibilidade nervosa da modernidade.
- valorização das impressões súbitas e instantâneas.
- busca dos elementos dinâmicos da natureza e não do que é solido. Dominio do momentâneo sobre o permanente. Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes. Heráclito.
- realidade como devir e não como ser.
- reprodução do ato subjetivo do artista, e não do substrato objetivo do visto.
- o homem é a medida de todas as coisas: verdade está no hic et nunc do individuo. O ocasional será o principio da verdade, e a verdade do momento invalidará qualquer outra verdade.
- preponderancia de uma atitude relativa a coisas, cuja particularidade será mutável.
- visão da realidade passiva: contemplativa.
- substituição do objeto do conhecimento teórico pela experiencia ótica: separação dos elementos conceituais dos elementos ópticos, que leva à autonomia do visual. Pintura pré-impressionista: é composta de forma heterogenea, composta de elementos conceituais e sensoriais, mas com o impressionismo é a homogeneidade do puramente visual.
- arte pré-impressionista é o resultado de uma síntese, e o impressionismo de uma análise: porque constroi o seu assunto em cada caso particular, a partir dos dados dos sentidos. O impressionismo nos dá os elementos fundamentais do assunto – e é portanto menos ilusionista. Em vez da descrição pictórica do assunto, ele dá os elementos por que a experiencia é constituida. Antes do impressionismo, a arte reproduzia os objetos por meio de sinais, agora, representa-os por meio dos seus componentes, por parte do material de que são feitos.

Reduções do impressionismo:
- representação do puramente visual e eliminação de tudo que não seja ótico.
- desprezo pelo assunto.
- redução de todos motivos à paisagem, a natureza morta: predominio do pictorico. Despreza o assunto, em nome das tonalidades. Fim do sorriso dos gregos.
- transferencia do volume físico e da forma plástica para a superficie.
- dissolução da estrutura sólida dos corpos
- absorção do espaço: reduçaõ da realidade a duas dimensões
- distorção da experiencia vulgar: não há cor fixa.
- artistas produz para os seus pares: arte pasa a ser o real assunto da arte (arte como experiencia formal do mundo

Filosofia: a realidade é uma relação sujeito objeto cujos elementos sao indetermináveis. Nós mudamos e o mundo dos objetos muda conosco. As obras do passado mudam de significado.
- unicidade do momento que não se repetirá.
Freud: conceito de ilusão - os homens passam a sua vida escondidos de si proprios e de outros. .
Nietzsche: as verdades são todas mentiras (p. 1111).

- fragmentação do olhar
- representação do modo como o artista vê a realidade, desprovida de conceitos teóricos apriorísticos.
-
- desconstrução da materialidade, da forma plástica, da estabilidade, do espaço.
- privilegia o olhar do observador: subjetividade.
- desprezo pelo assunto/ ênfase na visualidade: fim da arte de assunto.
- arte é analítica: busca a matéria prima da experiência. Não faz a descrição pictórica do assunto, mas representa através dos seus componentes.
- arte de reduções, simplificações e restrições.
- tudo o que é humano e psicológico desaparece da pintura, em nome do aspecto puramente visual.
- realidade/cores/forma - dependem do ponto de vista do observador, que é sempre momentâneo e transitório.

11 de agosto de 2010

Decadentismo

Decadentismo

Definição
O termo decadentismo descreve uma sensibilidade estética que ocorre no fim do século XIX e se contrapõe ao realismo e ao naturalismo. Sua origem refere-se mais diretamente ao modo pejorativo como é designado um grupo de jovens intelectuais franceses que compartilham uma visão pessimista do mundo, acompanhada de uma inclinação estética marcada pelo subjetivismo, pela descoberta do universo inconsciente e pelo gosto das dimensões misteriosas da existência. Os versos do poeta Paul Verlaine indicam como o grupo incorpora positivamente o termo, dando a ele conotação diferente da original: "Je suis l'empire à la fin de la décadence" ["Sou o império no fim da decadência"]. Os escritores e poetas simbolistas dos anos 1880 e 1890 são considerados os primeiros expoentes do decadentismo. O simbolismo, corrente de timbre espiritualista, encontra expressão nas mais variadas artes, pensadas em estreita relação de umas com as outras.

O objetivo das diferentes modalidades artísticas é a manifestação da vida interior, da "alma das coisas", que a linguagem poética - mais do que qualquer outra - permite alcançar, por trás das aparências. A poesia simbolista de Gérard de Nerval e Stéphane Mallarmé, por exemplo, sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras. É possível compreender o simbolismo e o decadentismo como desdobramentos do romantismo, alimentados pela reação ao cientificismo que acompanha o desenvolvimento da sociedade industrial da segunda metade do século XIX. Contra as associações frequentes entre arte, objeto e técnica, e as inclinações naturalistas de parte da produção artística, os simbolistas e decadentistas sublinham um ideal estético amparado na expressão poética e lírica.

Nas artes visuais especificamente, a pintura simbolista marca a origem do chamado decadentismo. Tendo surgido paralelamente ao neo-impressionismo de Georges Seurat e de Paul Signac, o simbolismo se apresenta como mais uma tentativa de superação da pura visualidade defendida pelo impressionismo. Porém enquanto o divisionismo de Seurat e Signac funda a pintura sobre leis científicas da visão, o simbolismo segue uma trilha espiritualista e anticientífica: a arte não representa a realidade, mas revela, por meio dos símbolos, uma realidade que escapa à consciência. Se o impressionismo fornece sensações visuais, o simbolismo almeja apreender valores transcendentes - o Bem, o Belo, o Verdadeiro, o Sagrado - que se encontram no pólo oposto ao da razão analítica. A arte visa retomar a paixão, o sonho, a fantasia e o mistério, explorando um universo situado além das aparências sensíveis. Nesse sentido, o simbolismo encontra-se nos antípodas do realismo de Gustav Courbet, mobilizando um imaginário povoado de símbolos religiosos, de imagens tiradas da natureza, de fantasias oníricas, de figuras femininas, dos temas da doença e da morte. Os artistas trabalham esse repertório comum com base em estilos diferentes. A "pintura literária" de Gustave Moreau e Pierre Puvis de Chavannes, por exemplo, focaliza civilizações e mitologias antigas, com o auxílio de imagens místicas, tratadas com forte sensualidade, como A Aparição, ca.1875. Odilon Redon, explora, em desenhos e litografias, diversos temas fantásticos, sob inspiração da literatura de Edgar Allan Poe.

Frequentemente associado à idéia de esteticismo - em virtude das formas preciosas, dos artifícios estilísticos e das temáticas tiradas do mundo interior -, o decadentismo, com base em sua origem francesa no simbolismo, se converte imediatamente em um fenômeno europeu. O ano de 1890 marca a difusão dos preceitos decadentistas pela Europa, que acompanham de perto os desdobramentos do art nouveau. Na Áustria, a obra de Gustav Klimt é emblemática da associação entre fórmulas decorativas e temáticas decadentistas, como indicam, por exemplo, as figuras femininas, de tom alegórico e forte sensualidade, visto no Retrato de Corpo Inteiro de Emilie Flöge, 1902, Judite I, 1901, e As Três Idades da Mulher, 1908, entre outros. Não apenas Klimt, mas outros artistas europeus da época, indica o crítico Giulio Carlo Argan, "embora vivendo num ritmo que crêem progressista, parecem perceber a inviabilidade, a inevitável decadência da arte na sociedade tecnológica". É o caso, por exemplo, dos suíços Ferdinand Hodler e de suas obras de cunho decadentista - O Desapontado, 1890, e Eurritmia, 1895 - e Arnold Böcklin, responsável por telas de tom místico e clima sombrio como A Ilha dos Mortos, 1880. Ou ainda, na Inglaterra, dos trabalhos de Aubrey Beardsley - autor das ilustrações da versão inglesa de Salomé, de Oscar Wilde - e das obras esteticistas de sir Edward Coley Burne-Jones.

Os pintores do grupo belga Les Vingt (Les XX) - que reúne James Ensor, Theodor Toorop e Henri van de Velde - são outros exemplos da expressão européia decadentista. Ensor produz uma obra povoada de elementos macabros e figuras grotescas, que procura enveredar pelas profundezas do inconsciente - A Queda dos Anjos Rebeldes, 1888; Toorop, místico ligado ao grupo dos Rosas-Cruzes, é autor de pinturas de caráter literário As Três Noivas, 1893, que se beneficia de uma das faces da obra de Van de Velde, famoso pelos interiores decorados. A obra do norueguês Edvard Munch confere um sentido mais trágico ao diagnóstico pessimista lançado pelos artistas em relação à sociedade industrial do fim de século. Nesse ponto também se verifica um movimento de arte da realidade exterior para o universo interior, como em todo decadentismo, só que seus trabalhos recusam qualquer sentido de transcendência da arte e do símbolo. Suas obras tematizam a dor, a morte e os estados psicológicos extremos, sem nenhum apelo estetizante - O Grito, 1893, Ansiedade, 1894.

É possível pensar ainda em reverberações simbolistas e decadentistas no grupo francês dos nabis - Aristide Maillol, Pierre Bonnard e Édouard Vuillard - e no expressionismo do Der Blauer Reiter [O Cavaleiro Azul], de Wassily Kandinsky e Paul Klee.

No Brasil, o simbolismo literário de matiz decadentista encontra expressão na poesia de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens. Na pintura, o repertório, as formas vaporosas, o colorido e as linhas ornamentais característicos da expressão decadentista são reeditados em trabalhos e fases da obra de alguns pintores. Por exemplo, A Dança das Oréades, 1899 de Eliseu Visconti, Estudo de Reflexos, 1909, de Carlos Oswald, Paisagem com Árvores, 1925, de Bruno Lechowski, Minha Terra (trípico), 1921, de Hélios Seelinger.



Fonte: Itaú cultural - Enciclopédia de Artes Visuais